sexta-feira, 20 de maio de 2016

Anselmo Ralph

Quem é este angolano de 32 anos que tomou conta da cena pop e está a pôr Portugal a gingar ao ritmo do kizomba?

Não há sucesso sem sacrifício/ na minha caminhada eu aprendi isso.» Este é o primeiro verso de Muito Obrigado, uma das músicas de A Dor do Cupido, o mais recente álbum de Anselmo Ralph. Se as coisas correrem como até aqui, será mais um sucesso deste cantor angolano de 32 anos que tomou de assalto as rádios e as pistas de dança portuguesas com o tema Não Me Toca – o vídeo no YouTube já ultrapassou vinte milhões de visualizações e liderou durante semanas o top 25 da RFM. Em Dezembro Anselmo Ralph esteve em Portugal – depois de ter, em 20 de Julho, esgotado a Meo Arena, em Lisboa.

Antes de o ser no nosso país, Anselmo Ralph já era um ídolo em Angola. Simbolizava o advento da cena pop africana, em que os sons tradicionais do kizomba e do semba surgem misturados com os ritmos da pop e do rhythm and blues – e que acompanha a explosão económica do país e da sua classe média. Por cá, foi a enorme massa de seguidores portugueses que ditou a diferença, que o tornou uma estrela internacional – com 519 mil seguidores no Facebook, trinta mil no Instagram – e impôs o feito, pouco usual para um artista africano, de chegar às rádios mainstream.

António Mendes, director da RFM, rádio do grupo Renascença, recebeu, em meados de Novembro, o cantor nos estúdios da Rua Ivens, em Lisboa. No programa matinal da estação de rádio Café da Manhã, Anselmo não só fez um dueto com uma fã de 19 anos como também uma paródia da sua música O Euromilhões não Me Toca. O responsá­vel tem uma explicação para o sucesso do angolano: «Além do talento e da popularidade, o segredo do sucesso de Anselmo é cruzar referências pop com as suas raízes angolanas e fazê-lo de forma contem­porânea e atual.» O director da RFM enaltece também a estratégia da equipa responsável pela divulgação do trabalho do músico além-fronteiras. «Nota-se que há um cuidadoso trabalho de produção. Ele tem trabalhado muito. Os vídeos dele são muito atuais, muito bem produzidos. Está lá tudo. Se nós ouvirmos Anselmo Ralph e depois um músico como por exemplo o Chris Brown, as sonoridades são semelhantes.» E mais: «Anselmo tem tido um cuidado muito grande na gestão da sua imagem.»

Conhecedor do panorama musical angolano, o empresário Manuel Moura dos Santos – que se divide atualmente entre Lisboa e Luanda – aponta também as razões do sucesso do hit do momento: «É uma música extremamente ritmada e alegre, pop, e que che­ga facilmente às pessoas.» O empresário, que já agenciou Rui Velo­so e ficou conhecido do grande público por ter feito parte do painel de jurados do talent show da SIC Ídolos, compara o fenómeno Anselmo Ralph com outro movimento também com raízes africanas que ocorreu em Portugal há vinte anos. «É um processo em tudo parale­lo com o que aconteceu nos anos 1990 com a música cabo-verdiana, com o B.Leza (discoteca) e com o contacto que os portugueses tomaram com a música que se fazia em Cabo Verde», explica.Ao fenómeno também não será alheia esta dupla relação entre Portugal e Angola – com raízes centenárias e desenvolvimentos re­centes. A forte presença de comunidades imigrantes angolanas em Portugal, todos os portugueses com relações com o país, e, mais recentemente, a nova emigração para Angola. Tudo isso facilitou o ca­minho, a abertura de espírito e o maior conhecimento do que se faz musicalmente em ambos países.

 «O Anselmo explodiu em Portugal no último ano. Há muitos clubes de música africana que têm imensa popularidade, não só entre os angolanos que residem em Portugal mas também junto dos portugueses. Alguns por influência dos tempos que passaram lá, dos que vivem cá e trabalham lá e estão cá tem­porariamente e já tomaram contacto com este tipo de música. Todos esses fautores ajudaram muito a criar empatia com a música que se faz em Angola», explica o empresário.Até porque a língua, aqui, é um factor facilitador. Tanto António Mendes como Manuel Moura dos Santos acreditam que Anselmo Ralph será apenas o primeiro de um movimento que há de trazer ao mercado português mais nomes da cena musical, não só angolana mas de outros países africanos que falam português. O director da RFM explica: «Temos ligações com esses países, temos cada vez mais pessoas que circulam entre cá e lá, que levam e trazem influências. O que é surpreendente é como não aconteceu há mais tempo!» Manuel Moura dos Santos corrobora: «Ainda bem que a música angolana está a chegar a Portugal e que a música portuguesa chega a Angola. Cantam-se na mesma língua e faz todo o sentido esse intercâmbio, e que também envolva Cabo Verde, Moçambique.»


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